Um amigo
confessou-me certo “cansaço eleitoreiro”. Disse que não aguenta mais escolher
candidato como quem vai ao supermercado.
– Parece que estou
comprando sucrilhos: olhando a embalagem, conferindo as origens de fábrica,
data de vencimento, benefícios nutricionais.
Confesso que me
senti solidário com a indignação do meu amigo. Também eu me vejo no atacadão
eleitoral, com uma variedade de ofertas, pouco dinheiro e muita desconfiança no
bolso. Meu amigo mostrou as opções: embalagens de plástico ou papelão; menor ou
maior peso líquido; e promessas de massa de biscoito fino. Os que trazem
brindes são os mais numerosos nestes tempos de promoção de candidatos: você
elege e depois ganha uma surpresa. Parecido com este é o sem conservante –
estraga antes de dois meses de mandato. Tem ainda o vitaminado e enriquecido.
Tipo boina verde ou empresário de sucesso. Tem gente que compra só porque é
mais caro. E tem o de milho transgênico, que as pesquisas garantem não causar
prejuízo à saúde, mas...
Na verdade, se você
olhar e cheirar de perto, vai ver que todos parecem muito iguais: a mesma
carinha enrugada e o mesmo gosto de polenta fantasiado de açúcar.
Por isso, meu amigo
se cansou dos meios “democráticos” e propôs novo sistema de escolha de lideranças:
uma disputa, homem a homem, num ringue de luta.
– Mas luta livre e
vale-tudo não pode. Eles vão ter que aprender
a jogar limpo! – exige meu amigo otimista.
A ideia era voltar
ao velho e bom método do corpo a corpo entre candidatos. Resolver as diferenças
à Chuck Norris, machamente, no braço. Aquela coisa tipo Davi e Golias, Anderson
Silva e Jon Jones, Justin Bieber e todo o mundo.
O Brasil seria
governado pelos mais fortes, os que sabem aguentar porrada.
– Pensa num governador
como Rambo, Cobra, Texas Ranger – disse meu amigo fã de cinema C.
Pensei no
Schwarzenegger.
– É, deu certo com
o Arnold. O risco está no Brasil virar a Califórnia.
Mas pensemos também
nas vantagens: eu seria vizinho da Angelina Jolie e da Cameron Diaz...
A proposta poderia
ser boa. Imaginei os dois candidatos num debate, ao vivo, na TV. O cenário é a
Cúpula do Trovão. A plebe inflamada grita pelo seu candidato preferido. Levanta
bandeiras. Veste camiseta I love Tigrão. Esquece as dívidas para se
divertir com o espetáculo. Faz apostas. Se estapeia quando o outro xinga seu
herói. Ataca a torcida adversária com a fúria fascista da Lazio. Tudo muito diferente
do que é hoje, certo?
Os
partidos iriam agenciar seus candidatos. Captar recursos para os aminoácidos e
a albumina. Alguns tentariam combinar as lutas para vencer nas apostas. Você já
viu isso: o lutador faz que perde, mas ganha. Igual àquele candidato que perdeu
a eleição passada e hoje é secretário de governo.
O
bravo guerreiro já está no ringue. O Duda Mendonça aparece com uma toalha no
ombro e um copo de canudinho na mão:
– Não esquece o que
treinamos. Quando ele abrir a esquerda, você usa a direita.
– Direita? Mas eu
sou PSTU!
A dupla de
candidatos é munida de gládios, espadas, bazucas, tacapes. A motosserra seria
proibida. Não porque é sanguinária (com isso o povo já está acostumado nos
comícios), mas para não dar vantagem à Katia Abreu. A batalha teria de ser
igualitária. Uma carnificina justa. Um combate até a morte.
Dos dois.
* * *
Mas lembrei – ai! –
que já somos homens civilizados.
Tenho meu título de
eleitor para comprovar.
E compramos
sucrilhos.
– Você prefere o
tradicional ou de banana?
– Puxa! Tem com
sabor?
– Artificial, é
claro...
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