quinta-feira, 4 de outubro de 2018

RINGUE ELEITORAL


Um amigo confessou-me certo “cansaço eleitoreiro”. Disse que não aguenta mais escolher candidato como quem vai ao supermercado.
– Parece que estou comprando sucrilhos: olhando a embalagem, conferindo as origens de fábrica, data de vencimento, benefícios nutricionais.
Confesso que me senti solidário com a indignação do meu amigo. Também eu me vejo no atacadão eleitoral, com uma variedade de ofertas, pouco dinheiro e muita desconfiança no bolso. Meu amigo mostrou as opções: embalagens de plástico ou papelão; menor ou maior peso líquido; e promessas de massa de biscoito fino. Os que trazem brindes são os mais numerosos nestes tempos de promoção de candidatos: você elege e depois ganha uma surpresa. Parecido com este é o sem conservante – estraga antes de dois meses de mandato. Tem ainda o vitaminado e enriquecido. Tipo boina verde ou empresário de sucesso. Tem gente que compra só porque é mais caro. E tem o de milho transgênico, que as pesquisas garantem não causar prejuízo à saúde, mas...
Na verdade, se você olhar e cheirar de perto, vai ver que todos parecem muito iguais: a mesma carinha enrugada e o mesmo gosto de polenta fantasiado de açúcar.
Por isso, meu amigo se cansou dos meios “democráticos” e propôs novo sistema de escolha de lideranças: uma disputa, homem a homem, num ringue de luta.
– Mas luta livre e vale-tudo não pode. Eles vão ter que aprender a jogar limpo! – exige meu amigo otimista.
A ideia era voltar ao velho e bom método do corpo a corpo entre candidatos. Resolver as diferenças à Chuck Norris, machamente, no braço. Aquela coisa tipo Davi e Golias, Anderson Silva e Jon Jones, Justin Bieber e todo o mundo.
O Brasil seria governado pelos mais fortes, os que sabem aguentar porrada.
– Pensa num governador como Rambo, Cobra, Texas Ranger – disse meu amigo fã de cinema C.
Pensei no Schwarzenegger.
– É, deu certo com o Arnold. O risco está no Brasil virar a Califórnia.
Mas pensemos também nas vantagens: eu seria vizinho da Angelina Jolie e da Cameron Diaz...
A proposta poderia ser boa. Imaginei os dois candidatos num debate, ao vivo, na TV. O cenário é a Cúpula do Trovão. A plebe inflamada grita pelo seu candidato preferido. Levanta bandeiras. Veste camiseta I love Tigrão. Esquece as dívidas para se divertir com o espetáculo. Faz apostas. Se estapeia quando o outro xinga seu herói. Ataca a torcida adversária com a fúria fascista da Lazio. Tudo muito diferente do que é hoje, certo?
Os partidos iriam agenciar seus candidatos. Captar recursos para os aminoácidos e a albumina. Alguns tentariam combinar as lutas para vencer nas apostas. Você já viu isso: o lutador faz que perde, mas ganha. Igual àquele candidato que perdeu a eleição passada e hoje é secretário de governo.
O bravo guerreiro já está no ringue. O Duda Mendonça aparece com uma toalha no ombro e um copo de canudinho na mão:
– Não esquece o que treinamos. Quando ele abrir a esquerda, você usa a direita.
– Direita? Mas eu sou PSTU!
A dupla de candidatos é munida de gládios, espadas, bazucas, tacapes. A motosserra seria proibida. Não porque é sanguinária (com isso o povo já está acostumado nos comícios), mas para não dar vantagem à Katia Abreu. A batalha teria de ser igualitária. Uma carnificina justa. Um combate até a morte.
Dos dois.

*          *          *

Mas lembrei – ai! – que já somos homens civilizados.
Tenho meu título de eleitor para comprovar.
E compramos sucrilhos.
– Você prefere o tradicional ou de banana?
– Puxa! Tem com sabor?
– Artificial, é claro...

RINGUE ELEITORAL

Um amigo confessou-me certo “cansaço eleitoreiro”. Disse que não aguenta mais escolher candidato como quem vai ao supermercado. – Parece...