Não sei se alguém percebeu, mas o mundo
não acabou.
De novo.
Faz mais de 4,5 bilhões de anos que ele
não acaba. Tempo demais, repararia alguém.
Desta vez, era para ter acabado no
último sábado. Um espetáculo pirotécnico da Terra se chocando contra um planeta
com a simpática alcunha de Nibiru. Finalmente, o Caldeirão do Huck ia ter um quadro interessante.
O evento “Fim do Mundo – Reserve seu
camarote” já ganhou várias edições. Desde os anos de 90, quando Nancy Lieder,
que conversa com amigos extraterrestres no Facebook, vislumbrou a Terra
explodindo numa trombada interplanetária. O show
de estreia foi marcado para 27 de maio de 2003. Ano do primeiro mandato do
Lula. Moro está investigando se houve participação do ex-presidente no desvio
do planeta.
Depois, o evento foi remarcado para 21
dezembro de 2012. No dia aprazado, nada do Nibiru. Apesar da ampla corrente de
orações dos perus em vésperas de Natal. Mas a Columbia Pictures e o John Cusack
fecharam o ano com superávit nos royalties
de direitos para DVD e TV a cabo.
Neste ano, o folguedo estava agendado
para o dia 23 de setembro. Muitos não viram porque era sábado e acordaram tarde.
Outros não viram, porque não tinha nada, mesmo, pra ver: para desgosto dos foliões,
o Nibiru não veio à festa, de novo. Nem mandou zapp se desculpando. De modo que nem chamaram a Anitta, pra
substituir. Por isso, o mundo não acabou.
Veio outra segunda-feira. Com o mesmo
Temer na presidência. E outro programa Encosto,
da Lástima Bernardes.
Mas o mundo vai acabar, e a esperança
ainda vai estar lá, firme, pendurada pelo mindinho, à beira do cântaro de
Pandora. Pois, não é que o numerólogo David Meader marcou outra data para o
espetáculo apocalíptico? 15 de outubro de 2017. Meade não vê motivos para a
gente desistir do fim do mundo. É um sonhador otimista. Como Nostradamus, São
João Evangelista e metade dos roteiristas de Hollywood.
Mas... quem nunca?
Sonhar com o fim do mundo é um modo de acreditá-lo
sob o nosso controle. Síndrome de Pink e Cérebro. Assim a denominaria um
psicanalista. Que gosta de ter as coisas sob controle. Mas, em vez de matá-las,
prefere pô-las no CID.
Por isso, não faltam teorias criativas
para o armagedom. Tensão
pré-menstrual coletiva é uma delas. Por uma bizarra ação de influência
fisiológica mútua entre as mulheres, todas entrariam em TPM na mesma semana. Seria
algo entre The walking dead e Guerra do mundo Z. Sem os zumbis.
Duvido que precisemos chegar a tanto
para a autodestruição. Hitler e Stalin não menstruavam. E, ao que se sabe, a
natureza também não proveu Trump e Kim Jong-un de trompas de falópio.
Particularmente, acho que temos de ser
pacientes e não esperar muito do mundo. Não esperar, por exemplo, que ele
acabe. Por que o mundo é igual ao Brasil. Contra todas as expectativas e
probabilidades lógicas, sempre resiste e sobrevive.
Todavia, isso não me impede de sonhar,
como todo o mundo. Afinal, um pouco de utopia é fundamental para aguentar mais
uma segunda-feira e outro programa da Lástima Bernardes.
Por outro lado, penso que há falhas de
planejamento, na produção do apocalipse. Por exemplo: para que encomendar um
planeta do outro lado do sistema solar pra destruir o mundo, com os Estados
Unidos aqui do lado?
Falta logística.
Se queremos o fim do mundo, a gente tem
que ser mais competente.
E pedir conselho para o pessoal do agronegócio.