sábado, 11 de novembro de 2017

GRADUANDO EM HOLLYWOOD

E, falando em cinema, vida de estudante é a Anatomia de Grey: quando a gente acha que a personagem encontrou a felicidade e a série, finalmente, vai terminar, vem mais uma temporada de sofrência.
Nem terminamos de argumentar que surdo é problema de pedagogo e já temos outro perrengue com que nos preocupar: depois de entrar na faculdade, como sair dela?
Tudo seria mais fácil, se a universidade fosse em Hollywood. E muitos de nossos alunos acham que é. As únicas referências que levam para a vida escolar vêm de American pie e A casa das coelhinhas e só conhecem o adjetivo “universitário” porque, no Brasil, ele acompanha o substantivo “sertanejo”. Por isso, passam quatro ou cinco anos em cachaçada de calouro e o resto da vida na ressaca, reclamando que “a faculdade não ensinou nada”. Como não? Já viu um formando de faculdade brasileira desconhecer a receita de uma boa porradinha? E não se veste uma beca nem se faz juramento, sem mostrar excelência num macarrão com salsicha. Ah, isso não!
Se a vida fosse um churrasco, nossos graduados ensinariam ao mundo como bem usar isso a que chamam razão humana. Pois aprendemos bem a lição: se os norte-americanos nos souberam vender seu way of life, foi na propaganda de uma universidade. Tanto, que nos esforçamos para fazer dos nossos campi um acampamento de férias.
Universidade de cinema nunca tem aula. Mesmo porque não tem sala de aula. Só tem corredores, refeitórios e irmandades. Aluno de universidade hollywoodiana só se ocupa em duas atividades: ou está garimpando sexo ou vomitando o excesso de natu nobilis. Na universidade de cinema, sempre é fim de semana ou hora do recreio. E os brasileiros que aprendem cultura universitária nas matinês pensam que Stanford e Columbia são Hogwarts e High School Music. E pensam que ler duas letras gregas no nome de uma irmandade já faz merecer um PhD em Homero.
Apenas desconfio que esse way of life só pegou no Brasil. Vamos lá: alguém consegue, seriamente, imaginar um estudante da Princeton University preenchendo sua matriz curricular com atividades semanais de coleta em semáforo para financiar cerveja na faixa?
Pode ser. Mas também pode ser que, enquanto a gente mata alguns milhares de neurônios em outra calourada (que faculdade brasileira recebe calouro todo fim de semana), um economista em Harvard descobre uma nova fórmula para dobrar os lucros no mercado de entretenimento.
Na dúvida, minha recomendação continua sendo: se o camarada procura, na universidade, só um lugar para encher o caneco e azarar patricinha, ingresso de feijoada da Anitta sai mais barato.
E a ressaca dura menos.

Um comentário:

  1. Ufa! Ainda bem que na "capital secreta do mundo" não tem graduandos assim!

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