A professora pediu trabalho sobre o
Brasil do Século Dezenove.
Joãozinho conhecia
um cara que conhecia outro cara, que sabia de um cara no Google, chamado
Wikipedia, que sabia tudo sobre o assunto. Resolveu se socorrer com o submundo.
E até o Joãozinho,
que é campeão no GTA 5, ficou horrorizado com o Brasil que descobriu.
Os brasileiros, no
Brasil do Século Dezenove, amargavam uma vida bem primitiva.
O país era dominado
por uma elite de barões e coronéis. Eles diziam o que se devia e o que não se
devia fazer. Tomavam decisões arbitrárias. Promulgavam leis autoritárias e
injustas. Aliavam-se para conspirar contra o resto da população. E, se o povo
protestasse, mandavam a polícia pra cima. Batiam, prendiam. E até matavam.
Isso, no Brasil do
Século Dezenove.
Essa gente que
mandava era também mandada. O povo, no Brasil do Século Dezenove, trabalhava
para encher de dinheiro os bolsos de outro povo folgado, lá de fora. O Brasil
do Século Dezenove só plantava o que os gringos mandavam. Em vez de plantar
comida para o povo, desmatava tudo, pra plantar grama pra boi e roça de grão pra
exportar pros estranjas.
Assalariados, no
Brasil do Século Dezenove, entregavam sua vida aos caprichos do patrão. Feito
escravo da Roma de César. Sem lei trabalhista pra proteger dos desmandos.
No Brasil do
Século Dezenove – coisa feia! – os doentes morriam, sem atendimento. Faltava hospital.
Quando tinha hospital, faltava médico. Quando tinha médico, faltava band-aid. E tinha epidemia à beça! A população
pobre era dizimada por pragas tropicais, transmitidas por mosquitos.
Aliás, os pobres,
quase todos negros, eram expulsos do centro da cidade, zona de convívio da “gente
de bem” (na língua do Brasil do Século Dezenove, ainda tinha gente que falava “gente
de bem”), porque enfeavam as ruas candidatas à Champs-Elysées. (Mas mentem os
historiadores que contam que os mendigos eram expulsos com jatos de água fria. O
Brasil do Século Dezenove era atrasado, não era bárbaro.)
Os negros, esses
eram ainda obrigados a viver todos amontoados, em lugares sujos, longe da casa
dos ricos. E os que se diziam cristãos achavam que a religião daqueles outros
era coisa de gente doente, pobre de espírito e adoradora do Satanás.
Tinha gente, no
Brasil do Século Dezenove, que defendia soluções de conflitos jurídicos na
bala. Problemas de convívio? Dá uma pistola pra cada um, e que resolvam no
duelo!
E a política,
então! No Brasil do Século Dezenove, um cidadão dormia Liberal e acordava
Conservador. No governo seguinte, fazia tudo ao contrário. Pensa que era que
nem hoje? Vai achar candidato em quem votar, no Brasil do Século Dezenove!
No Brasil do
Século Dezenove, políticos davam golpes e usurpavam o poder; juízes sentenciavam
defendendo seus próprios interesses, contra as necessidades da nação;
parlamentares recebiam propina para legislar contra o povo. Coisa de indignar a
moral ilibada do Aécio.
– Ainda bem que
nasci em outro século! – suspirou um Joãozinho aliviado.
E até fez bullying contra o colega Luizinho, que
vive sonhando com uma máquina do tempo pra voltar pro passado.
– Moleque burro!
Larga essa ficção científica!
E toma-lhe um safanão, pra deixar de ser besta.
Muito bom...
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